sábado, 19 de setembro de 2020

O vendedor de Sonhos

 Amanhecer com o sonoro

Comboio

Aufere à última paragem

O calejado velho

De bagagem, todo ele

Roupa velha aos ombros


Vagabundo dos cantos

Mais inglórios

Partilha a vivência 

De boa (e má) 

Experiência 


Passeia-se recitando

Ao outro (e a ti) 

Cicatrizes que diz 

Serem de si

Erros do que já foi 

E

Do que não mais torna


Galerias de quadros manchados

De marinheiros 

Naufragados 

Que dizem conhecer 

(por tanto tempo isolados) 

A verdadeira resposta

Do salva-vidas

Que deu a costa


Tais palavras harmoniosas

Repetem-se contigo

E (hoje) as carregas

Tornando-te no guarda essências 

Abrigo de vivências 

Um novo

Vendedor de sonhos

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

O pintor de Aljubarrota

 


Colossais paredes de marfim

Virgens, sem relevo

Munido de pincel de cetim

Me atrevo 

Em canvas, salpicos

Tais padrões infinitos


São tão altas as paredes

Onde se cheiram as cores

De pretéritos amores

Imperfeitos autores


Dentro desse palácio

Existem diversos quartos

Dois coloridos de magenta

Outros dois sabor a menta

Um, só um, de fluorescente 

E outros tantos, com farto espaço 

Sem Rembrandt ou Picasso


Na sala ao lado da entrada 

Em luz meio que desvanecida 

Brilhantes promessas esvoaçam 

Em morosa e sublime sincronia

Da copiosa filosofia


E lá, mais apartado e longínquo 

Um lugar soturno e aquoso

Onde não rumo

Onde cheiro sombra

De quem se rendeu, presumo


Não me retiro sem antes

Tingir mais um pouco

Sem antes escudar o marfim

E à parede, jogar me

Com todos os tons do jardim

terça-feira, 15 de setembro de 2020

I. A.

 Chacinados por ténues intervalos

Correm eles, cansados cavalos

Em trote agitado

A destino algum


Baratas tontas em ziguezague

Instante algum que aguarde

Esse trabalho árduo sem piedade

Ditos da anterior geração


Ciclos de fado legado

Às sementes futuras

Onde fadiga é costume 

De suceder ao cardume


Sem carinho se criam máquinas 

Bonecos sem criatividade

Sem folhear em tenra idade

Sem pintar passagens novas

Para sempre, todo o sempre

Imutáveis 

Suas consôrte covas



domingo, 13 de setembro de 2020

Fósforo

Existia uma vela

De alcunha, curiosidade

Que em prol da sociedade 

Concluio deixar, 

Apagar, 

O pavio


Existia uma vela

Em adjectivo, unicamente 

Que em apatia frequente 

Fingia esquecer, 

E perder, 

O incandescente


Houve uma vela

Tão única, tão azul

Que pela incerteza 

Do indeciso 

Se afogou, 

Em banal paúl


Há uma vela

Tão anémica, tão humilde

Que pela audácia 

Da teimosia

Deflagrou hoje

Em  singular

Sinfonia



sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Inteligência emocional

São pequenas câmaras ocultas

Essas, em seu ventre,

E la jazem pardais 

que em gaiolas ousaram gatinhar


São partes de lentes diminutas 

Em seus reflexos

Refraccionados

Na iris do meu olhar


Foram cantares espinhados

Em pomares enraizados

Desgastados

Amargos

Manchados pelo cal


Amanha serão prosa

Calistenias contempladas

Dessa flor sem pudor

Onde rugas permurtadas

São café sem amor






quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Um vezes zero

Se mil verões vivesse

E em mil não te tivera

Mil escolheria não te saber

Saborear



Porque que em mil noites de inverno

Mil vezes não podera

Dar te calor, 

em forma de abraço 

Eterno



Onde por mil longas tardes de primavera

Mil beijos não te dera

Casando futuro

nesse gentil

Sorriso




Pois de mil outonos

Mil serão esquecidos

Pois de folhas secas

Já se encontra

Este mundo cheio

Esmola

            Efemeras

        E sonoras

Essas sandálias pálidas a lua

            Uivadas ao vento

        Mitigadas no tempo

     Abandonadas numa rua, 

  Sem nome. 


             Passados

         Guerreiros do sistema

      Chamam-lhe precalços 

A sociedade que os condena


          Perdidos e sem alento

      Fantasmas eternos

               Esquecidos

   Poças derrotadas

              Trovantes antigos

    Descalços mendigos 





terça-feira, 8 de setembro de 2020

Ao canto com orelhas de burro

Vamos ter uma conversa séria, em tons de por-do-sol

Daquelas rudes e directas, cruas e abertas

os dois de castigo, um  diz que não mente, outro julga que sente


Uma conversa deveras real, igual a hallowen no carnaval

Um conduz à esperança, outro força mudança

Um espera o hábito, outro procura ser árbitro


Aquela chapada da mente confiscada, pela emoção prolongada 

Génio da consequência, loucura e demência

Carrasco sem juiz, gasto quadro, novo giz


Em seriedade se banha a razão

e nesta efemeridade, a tensão

conformando-se com a decisão

de um nascer do sol em comunhão

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Petiscos

 Suspiro a chuva

Porque não te tornas tempestade?

Num susurro, quente brisa 

Roubaram lhe a liberdade

Ah... Desvaneios da idade? 

Não! Fugiu C a saudade! 


Cura essa ressaca! 

Ganha cor nessa esfera opaca! 

Raro especime "malaka" 

Raro bicho suricata! 


Suspiro a tempestade 

"pq n te converters tornado?" 

Num grito, anarquisado

"sou impulso, antes algemado" 

Ah! Crês te forcado? 

Sim! Rujo encarnado! 


Em todo o destino

Completa ironia

Onde a noite, agora dia

Onde basta "eu" companhia




quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Fingir ser poeta nao e dificìl

Chuta-me um tema
faço-te um rap do bairro 
rimo com qualquer problema 
palavras estrabicas num poema 

 Falemos do covid 
da Gertudes e do David 
da cota que morreu 
do puto que ainda nao apendeu 

Falemos do Putin 
do que renova termos sem fim 
do que envenena a oposiçao
sem receio, vergonha ou razao 

Falemos dos senhores que poluem 
mares, florestas e concluem 
que ganhos superam valores
que lucros conquistam as dores 

Falemos da extinçao em massa 
Tal conceito nos ultrapassa 
deste cometa implacavel 
deste "exterminador" insaciavel 

Falemos, discutamos, mas sem nada fazer 
"Posts" e preces malditas 
"likes" nova linguagem 
"um fixe" por uma imagem

Ontem saltei

Adormeço sorrindo 
pois abri novamente pandora 
e na enorme transgressao que me tornei 
os..transpirei 

 Adormeço tremendo 
pois cantei a pandora 
ecos de outrora 
jazem hoje... la fora 

 Adormeço filosofando 
pois abraço pandora 
abrindo buraco de outra hora 
è agora... furor 

Sou espirito livre 
Sou espirito rompante 
Sou Jenga sem peças 
Sou torre gigante 

Sou carpe diem 
Sou Clube dos poetas mortos 
Sou borboleta Furacao
Sou lado oposto, A razao 

Conta-me tu que te tornas-te
tambèm abriste a caixa? 
Tambèm pela inteligência bifurcas-te? 

Ou comum falacia 
cantiga antiga
crês te acàcia?
Ou eucalipto social 
erva daninha desse imenso matagal?

"Mais uma moedinha, mais uma voltinha"

Nesta profunda falesia da mente humana 
da vida mudana 
nesta corcunda amnesia da espiral filisofica 
da dança melodica 

somos erro revolto, espirito oco 
giradiscos reescrito 
bem estar material 
falso estar maldito 

aquela droga que nao preescreve 
aquele vicio de acumular 
aquele deturpar da moral

terça-feira, 16 de abril de 2013

Realidade

Presente verdade, Passada realidade. Nunca o é, constante exata, Constata o espelho, já foi. Adaptam-se costumes, mudam-se hábitos. metamorfose estrume, provérbios ditos. Alteras o vislumbre conforme agrado, Alteras imagem conforme a tua volta agregado, Alteras posse conforme presente Alteras afazeres conforme a falácia que és crente. fazem-se paralelos os planos, semelhantes palavras, simbiose de paralelos estranhos, tão intrinsecamente tocados. Pois tudo o que foi já não o é, e o que é nunca mais será, a evolução do ser (e da eterna busca de prazer), para um perfeccionista espelho meu, peso, no melhor que o teu. E da brisa vem o tornado, emaranhado, congestionando a saida, do que é ser miragem em espelho de água. Ténue... calmo.. escuro.