segunda-feira, 21 de março de 2011

Os Lobos e Ninguém

"Cresceu nas pedras
Falou sozinho com a voz de relento
Soube do sabor da morte, da sorte e do vento.
Cresceu calado
Dormiu sozinho na terra batida
Marchou descalço no pó dos caminhos da vida.
Guardou os rebanhos dos lobos à chuva e ao frio
Suou tardes de terra dura na ponta do estio
Comeu do pão magro
Da magra soldada
Largou a enxada
Largou o noivado
Largou p´ra cidade mais perto
Para um pão mais certo.
Malhou no ferro
Abriu trincheiras, estradas.
Sonhou.
Andou no mato perdeu a infância.
Matou.
Marchou caldo
Dormiu sozinho na terra batida
Caiu descalço no pó dos caminhos da vida.
E os lobos lá longe.
E as asas de abutre sem cara.
E o medo na tarde, na farda, no corpo, na arma
Soldado na morte
Do mato no norte
Na sorte do vento
No fogo da terra
Nascido descalço
Crescido nas pedras
Dormido sozinho
No pó do caminho
Enxada
Pão magro
Relento
Soldado
Na ponta do estio.
E o medo na tarde
E os lobos lá longe.
E as asas de abutre sem cara."

segunda-feira, 7 de março de 2011

Sempre para Sempre

"Há amor amigo
Amor rebelde
Amor antigo
Amor da pele

Há amor tão longe
Amor distante
Amor de olhos
Amor de amante

Há amor de inverno
Amor de verão
Amor que rouba
Como um ladrão

Há amor passageiro
Amor não amado
Amor que aparece
Amor descartado

Há amor despido
Amor ausente
Amor de corpo
E sangue, bem quente

Há amor adulto
Amor pensado
Amor sem insulto
Mas nunca, nunca tocado

Há amor secreto
De cheiro intenso
Amor tão próximo
Amor de incenso

Há amor que mata
Amor que mente
Amor que nada, mas nada
Te faz contente, me faz contente

Há amor tão fraco
Amor não assumido
Amor de quarto
Que faz sentido

Há amor eterno
Sem nunca, talvez
Amor tão certo
Que acaba de vez

Há amor de certezas
Que não trará dor
Amor que afinal
É amor,
Sem amor

O amor é tudo,
Tudo isto
E nada disto
Para tanta gente

É acabar de maneira igual
E recomeçar
Um amor diferente
Sempre, para sempre
Para sempre"