quarta-feira, 16 de setembro de 2020

O pintor de Aljubarrota

 


Colossais paredes de marfim

Virgens, sem relevo

Munido de pincel de cetim

Me atrevo 

Em canvas, salpicos

Tais padrões infinitos


São tão altas as paredes

Onde se cheiram as cores

De pretéritos amores

Imperfeitos autores


Dentro desse palácio

Existem diversos quartos

Dois coloridos de magenta

Outros dois sabor a menta

Um, só um, de fluorescente 

E outros tantos, com farto espaço 

Sem Rembrandt ou Picasso


Na sala ao lado da entrada 

Em luz meio que desvanecida 

Brilhantes promessas esvoaçam 

Em morosa e sublime sincronia

Da copiosa filosofia


E lá, mais apartado e longínquo 

Um lugar soturno e aquoso

Onde não rumo

Onde cheiro sombra

De quem se rendeu, presumo


Não me retiro sem antes

Tingir mais um pouco

Sem antes escudar o marfim

E à parede, jogar me

Com todos os tons do jardim

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